sexta-feira, 31 de março de 2017

BÁRAA, A PESSOA x ÈSÙ BARÁ DO CORPO
CULTURA YORUBA


Luiz L. Marins


1. Introdução:
Não sabemos como a palavra “Bára”, pura e simples, pode significar "Rei do corpo" ou
"Èsù do corpo". A tentativa de dizer que ela deriva de Òbàrà não se justifica, pois esta
palavra quer dizer apenas, um dos odù (signo divinatório) de Ifá (oraculo iorubá).
Na minha visão, “Èsù do corpo” não existe na concepção de Noção de Pessoa Iorubá.
Isto é um erro conceitual infelizmente largamente utilizado em teses acadêmicas.
Buscando esclarecimentos consultamos os dicionários, que se não clarificam os
conceitos filosóficos, pelo menos explicam as palavras.
Vejamos alguns significados de Bara (observem os tons):

bàrà = melancia > citrullus vulgaris.
bàrà = mausoléu real onde são enterrados os Aláààfin.
bàrà = bàrà-bàrà = correr esquivando-se ou movimentando de um lado para o outro.
bára = encontro, reunião.
bárà = uma coisa podre.
bààrà = expressão ligada ao ato de defecar.
báárà = o ato de estar começando algo.
bárá-bárá = o ato de amarrar algo com firmeza.
bára-bàra = fazer algo superficialmente
Báraa, pg. 87
Bá [...] B. […] ó báraare ni wájúùmi > ele encontrou-se na minha presença […] mo
bárãàmi nílé náà > eu me encontrei naquela casa […].
Gbara, p. 235.
Gbara x ó ti gbara di (he is fully equiped) ele está completamente equipado [para
realizar algo].
2
bàrà = planta rasteira que fornece o óleo de semente egunsi.
bara = deus do engano, o demônio, Ifá. [não concordamos com isto, mas é o que
consta]
bárabára = pequena quantidade.
bàrabàra = rapidamente, apressadamente.
2. CONCEITOS
Como vimos, enquanto “Bara” possui vários significados conforme o tom aplicado; já
“Báraa”, é uma expressão relacionada com a própria pessoa. Retomando, temos:
ó báraare ni wájúùmi > ele encontrou-se na minha presença
mo bárãàmi nílé náà > eu me encontrei naquela casa
Equivocadamente, este conceito de pessoa, possivelmente por similaridade fonética, foi
associado a Èsù, tornando Èsù do corpo, vindo a ser atualmente “fundamento” em
algumas casas religiosas de matriz africana, possuindo até mesmo assentamento próprio.
Tenha em mente que NÃO refiro-me aqui ao assentamento do Òrìsà Bará
(especialmente o batuque do R.S.)
Como dissemos, esta é uma expressão que deve ser utilizada para o conceito de Noção
de Pessoa, e não de Òrìsà. Visa significar a própria pessoa, ou, metafisicamente, o
espírito que acompanha (bá) o corpo (ara).
É associado à vasilha de búzios que representa a pessoa nos assentos individuais, pois o
“Bára um dos nomes com que se chama a vasilha com búzios, que faz parte das
representações individuais do iniciado, cujos búzios, futuramente, o mesmo efetuará a
divinação”. (Aulo Barreti Filho, informação pessoal).
A outra palavra, gbara significa “a parafernália completa ou conjunto de coisas de algo
ou alguém”, e quando aplicada sobre os assentamentos religiosos, toma uma conotação
especial porque, todos os elementos que compõe o assentamento de um determinado
Òrìsà, juntos, podem ser chamados de gbara Òrìsà, e que em português, foneticamente,
torna-se simplesmente “bara de Orixá”.
Da mesma forma, o conjunto de elementos que forma o assentamento de Orí, pode ser
chamado de gbára Orí, “bara de Orí”, isto é, o conjunto de coisas que forma o
assentamento de Orí.
Como na língua portuguesa não existe o fonema “gb” [guibe], a letra “g” é suprimida,
tendo seu fonema alterado para “b” [be], tornando-se a palavra gbara, simplesmente
“bara”.
Este é mais um dado complicador, pois, quando em um texto aparece a expressão “bára
do Òrìsà” ou “bára do Orí”, não sabemos o quis dizer o autor, nem ao que exatamente
se refere. Talvez, nem mesmo o autor saiba.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acreditamos que a confusão conceitual que ocorreu (e ainda ocorre), não seja produto
de improbidade, mas antes, resulta da falta de informação, e de uma apressada tradução
de palavras iorubás, sem uma pesquisa mais apurada.
Wande Abimbola (1982, p. 75) já avisava sobre o perigo da coleta da tradição oral no
campo, o instrumento de coleta, a transcrição para o papel da palavra coletada, e da
tradução, dizendo que “neste ponto alguém pode perguntar se foi empregado o melhor
método na coleta, transcrição e tradução. Isto é uma questão importante, que deve ser
olhada com atenção”.


REFERENCIAS
ABIMBOLA, Wande. “Notes on the Collection, Transcription, Translation and Analysis
of Yoruba oral Literature”, in, AFOLAYAN, Adebisi (Org.) Yoruba Language e
Literature, Ife, University of Ife, 1982.
ABRAHAM, R. C. Dictionary of Modern Yoruba, London, Hodder and Stoughton,
1962 [1946].
CMS. A Dictionary of the Yoruba Language, Ibadan, University Press of Ibadan, 2001
[1913].


5

Exu o Infinito

É um Orixá indispensável dentro do culto, sem ele não existe Orixá, pois é ele que serve de mensageiro entre os Deuses e os
seres humanos. Exú é o guardião das casas, dos templos das cidades e
das pessoas. Toda vez, que for fazer algo a algum Orixá deve ser feito
primeiro oferendas à Exú. Ele pode ser considerado o mais humano
dos Orixás, nem mau, nem bom. Exú foi criado da mesma matéria
divina da qual os seres humanos foram criados. Como Orixá, diz-se
que ele veio ao mundo com um porrete chamado Ogò, que teria a
propriedade de transporta-lo, ele representa também toda a fertilidade
que é consagrada a ele. Mensageiro dos homens aos orixás. Elemento
dinâmico, caminha entre o céu ( orun ) e a terra ( aiyê ), sempre
levando mensagens dos filhos aos orixás. Exú é único, e como único
tem o poder de transformar tudo a sua volta. Exú está a frente da
evolução do mundo, participando de tudo ao seu redor. Todo ser
humano possui seu Exú individual, como tem seu Orixá. Exú é
responsável pela comunicação, pela evolução, pois está associado a
atividade sexual, que assegura a continuidade da espécie humana.
Como é ligado a evolução, também é ligado ao destino das pessoas, e
com isso pode circular livremente entre todos os elementos da terra.
Ele também representa o feminino e o masculino. Exú, pôr ser o senhor
dos caminhos, pela responsabilidade que ele tem, é o primeiro a ser
cultuado em qualquer ritual. Somente ele tem o poder de abrir ou
fechar os caminhos, conforme for tratado. Tanto pode trazer coisas
boas, como má, pelo fato de estar sempre no caminho. A presença de
Exú é necessária, pois somente ele transporta as oferendas e somente
ele pode fazer aceita-las ou não. Se não agraciado no início de
qualquer ritual, pode haver um desequilibro, o que faria que ele
fechasse os caminhos e liberasse forças negativas para castigar quem
não o tratou direito, pois ele pode punir ou proteger. Mas bem tratado,
ele somente semeia o bem, fertilidade, saúde, harmonia. Seu local consagrado para adoração é a encruzilhada (orita), aonde
todos os caminhos se cruzam, para poder observar e a partir daí, controlar todos os caminhos. A rosa dos ventos o
representa pois ela representa todas as direções do mundo. Diz-se que Exú nasceu com uma lamina sobre a cabeça. Isso por
sinal, é dito em uma de suas saudações;
"Sonsó óbè kó lórì erù" ( A lâmina é afiada, ele não tem cabeça para carregar fardo)
Exú é considerado a terceira cabaça da existência, muito embora ele seja considerado como o primeiro Orixá a pisar na
Terra, Oxalá é a primeira cabaça da existência e Oduduá é a segunda cabaça.
Èsù é um Òrìsà de grande importancia entres os Yorùbá. Por ser muito corajoso e esperto, é considerado maior do que os
outros Òrìsà, e nunca é esquecido por seus cultuadores que, a fim de aplacar sua ira, fazem-lhe as oferendas de alimentos
sempre em primeiro lugar. Pode ser maldoso a qualquer momento, sendo por isso chamado de Buruku (qualificação
maligna).
Os Yorùbá acreditam que ele sempre carrega um objeto chamado Agongo Ogo, com o qual realiza suas maldades. A imagem
de Èsù é feita de um conjunto de pedras (Yangi). Fazem-lhe sacrifícios para mantê-lo em frente de casa, mas sua imagem
jamais é mantida no interior do lar, sob pena de amaldiçoar a família.
É comum oferecer a Èsù, entre outros, bodes (Òbúko), azeite-de-dendê (Epò Púpà), galos (Àkùko), caracóis (Ìgbín), acaçá e
Obí. Sobre sua imagem (Ère) colocam-se azeite-de-dendê (Epò Púpà) e sangue de animal ( Èjè), simbolizando seu banho
por essas substâncias. Èsù é inimigo de alguns Òrìsà. A fim de incitá-lo à maldade contra alguém, coloca-se sobre sua
imagem (Ère) um óleo denominado adí e um bilhete contendo o nome da pessoa contra quem se pratica o feitiço. Pessoas
pedem também fecundidade a esse Òrìsà. Conseguindo-a, dão a seus filhos nomes que incluem o de Èsù, tais como Èsùtosin
(É bom cultuar Èsù), Èsùbìyí (Nascido de Èsù) etc. Èsù possui também outros nomes, como Elégbára, Elégbáa, Leégbá.
As cidades onde se cultua Èsù são: Ondo, Ilesa, Ijebu, Abeokuta e Ekiti. Há cem anos atrás costumava-se sacrificar seres
humanos em homenagem a Èsù, pratica hoje abandonada

Provérbios em Yorubá


Àdágún silè takète kosése
(Não se deve iniciar a guerra e ir embora )
Bí abá so òkò sójà ará ilé eni ní bá
(Aquele que atira pedras ao mercado corre o risco de atingir um
parente)


Tí aṣeni bá ní ibi mefa yoo fi Ikan tabi Meji si ara
re
(Se um homem perverso está armado com seis maus caminhos ele vai
prejudicar a si mesmo com um ou dois)



Eni para buru mo ko kan fe Pawa Dà ni
(Um sujeito perverso está ciente de que ele é mau, ele
simplesmente não quer mudar)


Tí èyàn yoo bá huwa kan Eni ó ko Ranti esan kan
ola
(Antes de um ato de hoje, deve-se considerar

o resultado de amanhã)

Bi omodé da ilè, ki o má se da Ògun
(Uma Pessoa pode trair tudo e todos na terra, só não se deve trair
Ogum)


Ojú tó Ribi tí ko fo, a ira de ló ńdúró
(Os olhos que viram o mal e não ficaram cegos, é só esperar para ver
o bem)


Tí Ayé bá tojú Agba bàjẹ, àìmọwàá Nhu won ni.
(Se reina a turbulência sob a acusação de um ancião, deve ser devido
ao seu mau comportamento)


Eni bá jale lẹẹkan, a Ba Daso Arán bo Orí, Aso ole
ló Dà bora.
(Quem rouba uma vez, mesmo vestido de veludo, um ladrão, ele
permanece

Bamgbosê Obitikô e a expansão do culto aos orixás(século XIX): uma rede religiosa afroatlântica


Rodolfo Manoel Martins de Andrade é um dos personagens mais destacadosda história do candomblé. Babalaô e sacerdote de Xangô, eleé mais lembrado por seu nome iorubá, Bamboxê Obitikô, e é consideradoum ancestral de um dos terreiros mais antigos da Bahia, o Ilê Axé IyáNassô Oká, hoje popularmente conhecido como Casa Branca.2 Também aparecenas tradições orais de terreiros no Recife e no Rio de Janeiro. Nascido noreino iorubá de Oyó, provavelmente por volta de 1820, foi escravizado já emidade adulta e enviado para a Bahia, mas em poucos anos obteve sua liberdade.Posteriormente, viajou para diversas províncias do então Império doBrasil, ainda retornando à África. Radicou-se em Lagos, mas voltava sempreao Brasil. Hoje, tem descendentes nos dois lados do Atlântico.Vale notar que o método divinatório de 16 búzios usado hoje em todo oBrasil, o erindilogun, ou “jogo de búzios”, é frequentemente conhecido, entreos adeptos do candomblé, como o “sistema Bamboxê” (Beniste, 1999, p. 13;Braga, 2011), enquanto na literatura etnográfica o papel de Bamboxê Obitikô no período de formação das religiões afro-brasileiras tem sido frequentementecomentado. Em trabalho recente, apresentei as primeiras informações históricassobre sua vida, apontando para sua atuação em uma rede de libertos quese estendia da Bahia até Pernambuco, Rio de Janeiro e Lagos (Castillo, 2012).O presente trabalho traz novos dados etnográficos e documentais que contribuemcom nuanças importantes para a reconstrução histórica de sua históriade vida singular, contextualizando sua escravização no quadro políticoda queda do império de Oyó e do fim do tráfico atlântico de escravos. O textotambém analisa suas atividades religiosas no Rio de Janeiro, onde, nas duasúltimas décadas do século XIX, Bamboxê Obitikô atraiu uma comunidade defilhos de santo e clientes. Seu status como líder religioso nessa cidade — ondeos falantes de línguas bantus eram muito mais numerosos do que os falantesde iorubá — demonstra a importância da Bahia na disseminação do culto aosorixás em outras partes do Brasil. Finalmente, este trabalho aponta para vínculosindiretos entre Bamboxê e um dos mais conhecidos personagens negrosdo Rio, o alferes Candido de Fonseca Galvão, cujo pai, o liberto nagô Bemvindoda Fonseca Galvão, tinha laços com o Ilê Axé Iyá Nassô Oká por intermédio daialorixá Marcelina da Silva (Obá Tossi).Do cativeiro à liberdadeNão há consenso nas tradições orais sobre as circunstâncias da vinda deBamboxê à Bahia. Algumas dizem que ele veio como livre, enquanto outras afirmamque era escravizado. A documentação confirma esta última versão. Seusenhor, Manoel Martins de Andrade, era um imigrante português que dividiaseu tempo entre Salvador e uma propriedade rural, a fazenda Mutá, no municípiode Jaguaripe, recôncavo da Baía de Todos os Santos. Andrade se aventurava pequeno de cativos. Quando morreu, em 1871, tinha apenas cinco escravosadultos. Nos anos anteriores, uns 15 outros tinham vivenciado o cativeiro sobseu domínio, sendo posteriormente vendidos a terceiros ou alforriados. Umdesses foi Rodolfo Nagô, batizado o final de 1850, quando a participação brasileirano comércio atlântico de escravos estava chegando ao seu fim.3Embora o desembarque de cativos africanos fosse proibido em 1831, na práticaa lei teve pouco efeito. Apenas à província da Bahia chegaram mais de 60mil africanos escravizados ao longo da década de 1840-1850.4 Diferentementeda região sudoeste do Brasil, onde as redes comerciais do tráfico se organizavamem torno dos portos da África centro-oeste, os mercadores negreiros naBahia tinham negócios significativos no litoral do golfo do Benim, em cidadescomo Uidá e Lagos. Durante o tráfico ilegal, a maioria dos cativos que chegavaà Bahia era nagô (falantes de iorubá), aprisionada por guerras regionais relacionadascom a queda do império de Oyó. Até 1850, essa nação formava trêsquartos da população africana de Salvador, e seu idioma se tornou uma línguafranca na cidade, usada por várias etnias (Reis e Mamigonian, 2004, p. 80).Quando Bamboxê atravessou o Atlântico no porão do navio negreiro, é bemprovável que muitos dos outros cativos fossem nagôs como ele.Bamboxê foi batizado em 26 de dezembro de 1850 na freguesia rural dePirajuia, pertencente a Jaguaripe. O ritual aconteceu em um oratório particular,na casa do sogro de seu senhor.5 Segundo as regras brasileiras, os africanostinham de ser batizados em até um ano após sua chegada, o que indica queBamboxê deve ter desembarcado na Bahia por volta de 1849. O registro de seubatismo não oferece muitos detalhes, descrevendo-o apenas como “RodolfoNagô, adulto”, mas outros documentos sugerem que a essa altura ele tivesse 20e poucos anos de idade.6 Junto com ele, dois outros nagôs, escravos do sogro,também receberam o sacramento. Pirajuia tinha poucos habitantes, e os escravosformavam uma minoria da população. Naquele ano, por exemplo, de umtotal de 143 batismos realizados na freguesia, apenas 21 (15%) eram escravos,sendo a maioria desses pardos. Apenas oito eram africanos: seis nagôs e doistapas (nupes).7 A fazenda Mutá ocupava a ponta de uma península, e, quandoa maré enchia, o acesso era apenas por embarcação. Lá, Bamboxê provavelmentevivia com poucas oportunidades para contatos com outros nagôs, a nãoser outros cativos de seu senhor.A documentação indica que Manoel Martins de Andrade era um senhorintransigente, que não hesitava em recorrer à violência quando um de seusescravos resistia a uma ordem. Em setembro de 1852, Andrade solicitou permissãoda polícia para punir um escravo, Luís Nagô. Segundo o senhor, Luísera desobediente e devia receber 400 chibatadas. Mas o chefe de polícia consideroua severidade exagerada e autorizou “apenas” 150 açoites. Alguns anosdepois, “Rodolfo Nagô comprou sua alforria por 1:750$000 réis. A transaçãoaconteceu em Salvador, em 22 de maio de 1857, seis anos e meio depois deseu batismo. O curto período de sua escravidão certamente influenciou o valorpago, que foi acima da média paga para homens de sua idade. Um dia depois, anagô liberta Marcelina da Silva, ialorixá do terreiro Ilê Axé Iyá Nassô Oká, vendeuoutro africano ao senhor de Bamboxê pela metade do valor que Bamboxêhavia pago por sua alforria.8 Embora a escritura da venda não faça qualquermenção à alforria de Rodolfo Nagô, o curto espaço de tempo entre as duas transaçõessugere que houvesse uma espécie de acordo para compensar Andradepela perda dos serviços de Bamboxê (Castillo, 2012, p. 80-81).Todas as tradições orais se referem a uma amizade entre a ialorixá e o babalaô,apontando para o envolvimento deste nas atividades religiosas do Ilê AxéIyá Nassô Oká. Em uma entrevista dada a Pierre Verger em meados do séculoXX, Mãe Senhora, tataraneta de Marcelina, afirmou que Bamboxê veio ao Brasiljunto com Marcelina com o propósito de prestar serviços no terreiro, quandoesta retornou após uma viagem de sete anos à cidade iorubá de Ketu, juntocom Iyá Nassô, fundadora do Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Verger, 1992, p. 89).9 Essaversão da chegada de Bamboxê à Bahia tem sido amplamente difundida entreo povo de santo e também na literatura acadêmica. Em trabalhos anteriores,Luis Nicolau Parés e eu apresentamos provas documentais de que a jornadaatlântica das duas ialorixás aconteceu no final de 1837, mas mostramos tambémque o destino foi Uidá, um porto daomeano localizado a 175 quilômetrosa sudoeste de Ketu. Ademais, Iyá Nassô nunca retornou ao Brasil, permanecendoem Uidá, onde ela e seu marido fundaram outro templo, enquantoMarcelina estava de volta à Bahia até maio de 1839 (Castillo e Parés, 2007, p. 8;Parés e Castillo, 2015, p. 14 e 23).A evidência documental sobre essa sequência de acontecimentos é bastantesólida. Ainda é possível que Bamboxê conhecesse as ialorixás na África,mas no caso provavelmente teria sido em Uidá em vez de em Ketu. Uidá eraum dos portos mais importantes do tráfico negreiro, e centenas de milharesde cativos passaram por lá durante sua migração forçada ao Brasil. Nos portosnegreiros, de vez em quando os cativos aproveitavam-se de oportunidades paraconversar com outros. Foi o caso de Mahommah Gardo Baquaqua, capturadono reino de Borgu, ao norte do Daomé, e levado para o Brasil entre 1840 e 1845.Ao chegar a Uidá, encontrou um de seus conterrâneos, que há anos moravalá como escravo (Eltis, 2004; Lovejoy, 2004; Law e Lovejoy, 2007, p. 147-148).



continua.......

Boa Noite Amigos e Irmãos!

É com extrema felicidade que comunico que conseguimos recuperar nosso blog, e com isso voltaremos a publicar assuntos de nossa religião, espero que todos fiquem satisfeitos com nosso conteúdo!

ASÉ O!!!

 A importância do ovo no candomblé


O ovo é o principal e maior símbolo da fertilidade, utilizado amplamente nos rituais de purificação, iniciação, Borí e ebós de propiciação e defesa. Existem vários contos de Ifá relatando a grande importância do Ovo. Uma delas conta que, Òlódúnmàré (Deus) estava para dar origem ao universo, tinha num pote de barro “4 Ovos”.
Com o 1º ovo deu origem primeiramente a Òòrìsànlà-Òbátálà surgindo na explosão da luz sem forma quando literalmente Deus disse haja luz assim Òòrìsànlà surgiu no mundo,
Com o 2º deu origem a Ògún a forma,
Com o 3º deu origem a Òbálúwàiyé a estrutura,
Com o 4º ovo acidentalmente caiu de sua mão estourando no chão revelando sua riqueza originando assim a primeira mulher universal chamada Ìyàmi-òsòróngà, expondo o segredo de sua riqueza para o grande pai, ou seja, mostrando seu poder de fertilidade e sobrenatural exposto a olho nu diante do Deus Supremo, nascendo assim, a fonte mantenedora da vida.
O Ovo possui três diferentes cores associado as cores principais e primordiais do universo; o ovo de casca azul representando a cor preta relacionada ao “Aba” = a escuridão as trevas das profundezas da terra e mares, o ovo de casca branca relacionada ao “Iwà” = a explosão da luz, e finalmente o ovo de casca vermelha relacionada ao “Àsé” = fogo mantenedor da fertilidade totalmente relacionado ao poder sobrenatural.
Seu conteúdo possui diversas características, o qual na maioria das vezes é branco, frágil e oval. Dele nasceu um novo ser, associado a idéia de que o universo surgiu primordialmente dele próprio, na forma de um protótipo do mundo. Como um filho de asas negras = ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ que foi cortejada pelo vento = ÒÒRÌSÀNLÀ-ÒBÁTÁLÀ.
O ovo é uma célula reprodutora feminina dos animais chamada macro-gameta, ou seja, rudimento de um novo ser organizado, primeiro produto do encontro dos dois sexos, pelos quais desenvolve a possibilidade de existência do fato. Germe, origem, princípio. Uma imagem viva do grande mundo (O Universo), em oposição ao microcosmo (o homem).


O Ovo é resultante da composição e fecundação de óvulos, possuindo 4 partes: 1º parte é a casca que representa o útero (invólucro mítico),
2º parte é membrana interna que representa a bolsa, placenta uterina (parede defensora),
3º parte é a clara, matéria viscosa e esbranquiçada, do grupo das proteínas que representa o útero,
4º parte é a gema amarela, parte intima, central e globular suscetível de reproduzir, a qual representa o feto, um novo ser engendrado preparado para nascer e atuar no que for necessário. O mito do ovo está presente em todas as culturas antigas, entre elas a Yorubá, Polonesa, Fenícia, Chinesa, Eslava, Polinésia, Finlandesa, Hindu, Germânica, Hebraica entre outras. A força germinal contida no ovo, esta associada à energia vital com grande desenvolvimento através de èsú, motivo pelo qual, tanto o ovo como Èsú, desempenha uma função importantíssima no culto Yorubá principalmente no culto de ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ, ÒSÚN, IYEWÁ, OYÁ, ÒMÒLÚ e etc...
Confirmando um total culto à fertilidade, magias curativas, purificando e quebrando as forças maléficas. A gema, sangue germinal unida à clara para obter nutrientes e hidratação necessária, transformados num único ser vivo individual no interior do ovo, plagiando o mesmo processo no interior do útero, que indiscutivelmente é o mesmo processo que acontece nos rituais, numa mesma idéia de união do casal universal; Òòrìsànlà-Òbátálà e Iyémowo.


Só o que no contexto do ovo, acontece mais rapidamente não existindo nenhum tipo de vinculo biológico entre a mãe e o filho, ou seja, não existe cordão umbilical. Isto explica o poder contido no ovo por si só, o qual foi um elemento criado diretamente pelo todo poderoso Òlódúnmàré (Deus), que colocou primeiramente o Ovo no mundo, logo depois surgindo dele a vida, ou seja, a ave. Por isso, o ovo é um elemento originado do criador, o símbolo mais importante representante do poder de ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ a mãe universal que necessita intrinsecamente do poder masculino de ÒÒRÌSÀNLÀ-ÒBÁTÁLÀ, o qual faz o ovo um elemento de muito Asé (poder realizador).


O ovo é utilizado amplamente nos rituais sob várias formas depois de encantados por palavras mágicas; na finalidade de neutralizar o mal, purificar a cabeça de um Iyawo antecedendo a iniciação, purificar a cabeça das que habitualmente irá receber sacrifícios no Ori, antecedendo o bori, purificar o caminho de pessoas que tem obstáculos na vida, tirar problemas de confusão, purificar uma pessoa com maus espíritos, tirar doença de mulheres e bebes tirar a Ikú das ou do caminho de alguém.


O ovo e também utilizado nos rituais de propiciação; na finalidade de obter fertilidade, atrair dinheiro, produtividade nós negócios e apaziguamento de certa situação quando utilizado em ebós de ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ.


O ovo quando cozido não possuindo mais então é utilizado inteiro sobre as oferendas das divindades, tendo somente a função de neutralizar doenças negativas. Já quando cozido e esfarinhado misturado ao “EKURU” também esfarinhado, este tipo de comida é utilizada para espalhar sobre o solo da casa de òrìsá, na finalidade de agradar os “AYES” (espíritos que residem na terra) espantando o mal ou neutralizando as energias negativas, quando é invocado neste ritual; os AYE sob o domínio de Ìyàmi-òsòróngà, Èsú e Òbálúwàiyé, assim propiciando abundancia e prosperidade para casa.


O ovo cru com seu frescor, quando utilizado inteiro em oferenda tem a função tranquilizar e refrescar. Por isso, é comum vermos muitos ovos crus depositados no chão aos pés de certos Ajùbò (assentamentos dos òrìsas) na finalidade de atrair abundancia e proteção, fazendo todas as divindades compreenderem perfeitamente que o èbò é uma súplica de fertilidade, germinação de filhos, dependendo da atuação da Divindade, ela não só atuará no tocante a fertilidade no útero, mais também propiciaria dinheiro, sorte, saúde e desenvolvimento na vida, por ser ovo um agente naturalmente fértil.


Já os ovos crus, quando “quebrando” diretamente passando na cabeça, têm a função poderosa de purificar e livrar até 80% qualquer tipo de feitiço ou qualquer outro tipo de negatividade que esteja sobre o Ori de uma pessoa. Quando num èbò ovos crus são atirados no chão ou quebrados encima do corpo de uma pessoa num sacrifício de purificação vulgarmente chamados de descarrego, é na finalidade de desobstruir os caminhos tirando as dificuldades da vida ou qualquer espírito de força contrária que esteja acoplado no corpo (obsessores).
Ao ser quebrado ele revela sua riqueza e seu poder tanto sobrenatural como concreto, pois no exato momento que é quebrado, o ovo não terá mais a possibilidade de germinar, ou seja, nascer algo dele, assim num tipo de substituição ou troca matará o problema que aflige uma pessoa possibilitando o fim de algo ou de uma situação negativa. Por este motivo que o ovo cru deve ser quebrado principalmente no Òrí de uma pessoa, numa preparação da cabeça que logo depois irá levar ritos sacrificatórios; começando pelo 1º sangue negro o Agbo-tutu (sumo de ervas fresca) em seguida o sangue vermelho de aves ou quadrúpedes e finalmente o sangue branco do igbin (caracol) que é espremido por cima de tudo, assim purificando, possibilitando a existência da força sobrenatural, acalmando e fertilizando a cabeça que esta no momento recebendo o puro ase , com a união dos três sangues primordiais após ter sido purificada com o ovo cru, possibilitando a pessoa obter sorte, dinheiro, felicidade, fertilidade, saúde e tranqüilidade. Quando um ovo é quebrado em qualquer ritual, o nome Ìyàmi-òsòróngà é respeitosamente citada e reverenciada, porque qualquer que seja o ovo lhe pertence, como relata vários Itãn-Ifá.


Quebrar um ovo na rua (atirando no chão) pela manha por três ou sete dias consecutivos, chamando Èlegbara e Ìyàmi-òsòróngà e espargindo dendê por cima do ovo cru, este, é um simples e poderoso ritual do culto de Ìyàmi-òsòróngà, o qual tem a finalidade de afastar qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo acalmando qualquer energia avessa do caminho de uma pessoa.


Como relata ifá, o ”Ovo de pato” é o símbolo da vida e umas das proibições de Ikú (morte), a utilização do ovo de pata cru, é essencial principalmente em certos rituais e seu, com finalidade de quebrar a força da morte, doença e perdas, assim uma pessoa sairá vitoriosa obtendo longevidade, saúde e ganhos. Quando cozido e esfarinhado é utilizado como agente purificador passando pelo corpo de uma pessoa em èbós de Egungun ou Onilé (para dentro da terra), também como casca e tudo é transformado a pó (seco ao sol) utilizado no igbà-Orì e assentamentos dos Òrìsá de relação com ikú Ex: Èsú, Ògún, Òbálúwàiyé, Iyewá, Òmòlú, Erinlè, Ibeji, Sàngó, Oyà, Iyémowo, Òòrìsànlà, Ajaguémó, Iroko, Yòbá, Onilé, Egungun e Gèlèdè.


Como relata Ifá, o único Òrìsá que não possui relação com ikú é o òrìsá Òsún, por ela não aceitar qualquer relação com situação de morte, também não aceita que os animais em seu culto sejam sacrificados (mortos) em cima de seu Okuta. Por esse motivo não admite a utilização de qualquer utensílio de cor escura, marfim, osso, buraco, agressividade e doença, os quais possuem totais relações com a morte. Isto também explica o porquê Òsún não aceita que suas filhas morram facilmente, assim Òsún os protege dando longa-vida numa ação de prolongar o Maximo o contato com a morte, todos esses aspectos de Òsún estão relatados nos Itãns do Odu Ósé.


Assim, o ovo de pata é amplamente utilizado nos “Èbós–Aiku” (sacrifício de longevidade) tirando qualquer tipo de morte, seja material, espiritual, financeira ou sentimental. Fica claro que o ovo utilizado na casa de Òrìsá é um elemento de Ìyàmi-òsòróngà sendo um utensílio de muito àsé.


Classificação dos Ovos
Ovo de galinha cru – purifica e tranquiliza.
Ovo de galinha cozido – tirar doenças.
Ovo de galinha esfarinhado – neutralizar negatividade do ambiente, atrair prosperidade e abundancia
Ovo de pata cru – enfraquece a força da morte, doenças graves e perdas.
Ovo de codorna – Neutraliza feitiço.
Ovo de D’angola – propicia dinheiro, sorte, prosperidade riqueza e sucesso nos negócios.

Ovo de pombo – propicia tranqüilidade e fertilidade.
Exu vinga-se e exige o privilégio das primeiras homenagens


Exu era o irmão mais novo de Ogum, Odé e outros orixás.
Era tão turbulento criava tanta confusão que um dia o rei já não suportando sua malfazeja índole, resolveu castigá-lo com severidade. Para impedir que fosse aprisionado, os irmãos o aconselharam a deixar o país. Mas enquanto Exu estava no exílio, seus irmãos continuavam a receber festa e louvações. Exu não era mais lembrado, ninguém tinha notícias de seu paradeiro. Então, usando mil disfarces, Exu visitava seu país, rondando, nos dias de festa, as portas dos velhos santuários.
Mas ninguém o reconhecia assim disfarçado e nenhum alimento lhe era ofertado. Vingou-se ele, semeando sobre o reino toda a sorte de desassossego, desgraça e confusão.
Assim o rei decidiu proibir todas as atividades religiosas, até que descobrissem as causas desses males. Então os babalorixás reuniram-se em comitiva e foram consultar um babalaô que residia nas portas da cidade. O babalaô jogou os búzios e Exu foi quem falou no jogo. Disse nos odus que tinha sido esquecido por todos. Que exigia receber sacrifícios antes do demais e que fossem para ele os primeiros cânticos cerimoniais. O babalaô jogou os búzios e disse que oferecessem um bode e sete galos a Exu.
Os babalorixás caçoaram do babalaô, não deram a menor importância às suas recomendações e ficaram por ali sentados, cantando e rindo dele. Quando quiseram levantar-se para ir embora, estavam grudados nas cadeiras. Sim era mais uma das ofensas de Exu!
O babalaô então pôs a mão no ombro de cada um e todos puderam levantar-se livremente. Disse a eles que fizessem como fazia ele próprio: que o primeiro sacrifício fosse para acalmar Exu. Assim convencidos, foi o que fizeram os pais e mães-de-santo, naquele dia e sempre desde então. 

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